o princípio tudo era com caixa alta, assim mesmo, CAIXA ALTA. O latim, e
sua imponência, não reconheciam as coisas menores. A palavra tinha sua
força na representação clara da ideia. Então, as palavras se preservaram
nos mosteiros, para fugir da barbárie, foram ser copiadas e mantidas
por séculos e séculos na clausura monástica. Foi quando os monges, em
suas vidas pacientemente regradas, criaram as caixas baixas para
facilitar os textos manuscritos. As ideias então, apesar de
grandes, preferiam a discrição dos traços minúsculos. Os monges
artistas ornamentavam páginas e páginas com ricas Iluminuras,
bordadinhas em escarlate a cada nova página, que se chamavam fólios. E
os fólios carregavam cuidadosamente os significados perpetuados pela
experiência humana e se capitulavam todo início de frase. Da inscrição
em pedra para a maleabilidade do papiro, as palavras optaram pela
fluidez. Evitou-se a rigidez. Chegou-se ser demodê escrever com
maiúscula, era como alguém que aprendera a escrever às pressas. Sua
complexidade resistia em poucas palavras, era como se fosse arcaico e
glorificante. Nasce nesse tempo a famosa noção de usar as caixas altas
para coisas importantes.
Centúrias fluíam pela clepsidra, a fluidez se esvaía pelo tempo. A concretude das gramáticas das línguas modernas forçava novas e novas regras. Tudo isso enterrava o latim. As funções gramaticais, que eram marcadas por casos e declinações e toda a magia da lógica própria da vestuta língua, renderam-se às ordens diretas, pontuações e maiúsculas que passaram a figurar no início de toda frase. Os frios e sisudos saxões ainda usaram as caixas altas a todos os substantivos; os latinos, mais quentes e amantes, foram comedidos no uso das mesmas. Veio a onda da internet, nela as regras de quase tudo se modificaram, inclusive as das relações. Ama-se perdidamente alguém de Milão. Conversa-se mais intimamente com alguém lá da Síria. Países além da Cochinchina passaram a compor os mapas mais pessoais. Os diários migraram de sua solidão trancafiada para um ermo pluri-observado de fãs afeitos às diversas ideias. As redes sociais não pescam pessoas. Elas ligam ideias. E o cansado escritor, das ideias mais recatadas, optou por fugir da norma, até porque só as Normas valem a pena, mas não as normas. Ele usou a caixa baixa para passar despercebido em meio a tanta expressão tão mais relevante na insensatez contemporânea.
Centúrias fluíam pela clepsidra, a fluidez se esvaía pelo tempo. A concretude das gramáticas das línguas modernas forçava novas e novas regras. Tudo isso enterrava o latim. As funções gramaticais, que eram marcadas por casos e declinações e toda a magia da lógica própria da vestuta língua, renderam-se às ordens diretas, pontuações e maiúsculas que passaram a figurar no início de toda frase. Os frios e sisudos saxões ainda usaram as caixas altas a todos os substantivos; os latinos, mais quentes e amantes, foram comedidos no uso das mesmas. Veio a onda da internet, nela as regras de quase tudo se modificaram, inclusive as das relações. Ama-se perdidamente alguém de Milão. Conversa-se mais intimamente com alguém lá da Síria. Países além da Cochinchina passaram a compor os mapas mais pessoais. Os diários migraram de sua solidão trancafiada para um ermo pluri-observado de fãs afeitos às diversas ideias. As redes sociais não pescam pessoas. Elas ligam ideias. E o cansado escritor, das ideias mais recatadas, optou por fugir da norma, até porque só as Normas valem a pena, mas não as normas. Ele usou a caixa baixa para passar despercebido em meio a tanta expressão tão mais relevante na insensatez contemporânea.
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