terça-feira, 31 de março de 2015

Grave greve !

há muito tempo, numa civilização bárbara e hostil, coexistiam gênios que orientavam e tutelavam as crianças daquela sociedade. Um belo dia, esse grupo de pessoas, que geralmente faziam seus rendimentos serem o suficiente para o mês, foi reprimido pelo tirano Tyramus Totvs. Esse tirano tinha como seu símbolo divinal uma ave de longo bico dourado, penas azuis e fama de minimizar para reger. Ele governava sob a égide de milhões e milhões de correligionários que o viam como líder e tinha também um poder paralelo que lhe servia para a informação e divulgação ideológica da população.
A repressão aconteceu quando não era mais interessante que se houvesse pessoas críticas aos malfeitos da rapina gestão.
Pagaram-se salários irrisórios, dividiram-se os gênios em subgrupo, que, então feridos na sua vaidade, começaram a se digladiar por um pouco de migalhas e um jarro de água pura. Cada vez mais, esses gênios se tornavam famintos e intransitivos até que se assemelharam a um tecnicista qualquer. 

Então, a coisa mais perversa se fez. Não havia mais entendimento nem entre os “gênios”, nem entre os burocratas, nem os tecnicistas e nem com os guardas reais. Criou-se uma Babel moral.
E as pessoas que vieram dessas fragmentações passaram a cultuar e repetir as sandices publicadas por esse mesmo tirano.
Coisas incríveis que os antigos gênios pareciam ignorar: O tirano já se sentira atingido, pois de onde ele viera, a primeira coisa a se fazer quando contrariado era desqualificar os opositores. Assim se fez. “Começou essa novela”, “Eles reclamam de barriga cheia.” Alguns grupos divulgadores de informações começaram a não ter como esconder a insatisfação e a paralisação dos mestres. O TIRANO NÃO DEIXARIA TAL AFRONTA BARATO.
O grande receio do grupo se deveu aos compromissos previamente assumidos pelos mestres e que poderiam comprometer a já sofrida vida de seus familiares, só que se esqueciam de que os seus ordenados eram pago em atraso de dois (2) meses, isso faria com que os descontos viessem somente no próximo do Inverno (Junho). E ainda tinham alguns que não sabiam o porquê haver meses em
que se recebia vale alimentação e transporte e em outros não. Isso sempre se deveu ao atraso desses meses para o pagamento.
E por fim, a fome já corroera toda dignidade, esses mesmos sábios preferiram as migalhas do dia, para sobreviver abatidos e desmotivados os amanhãs que ninguém mais ousava sonhar, a ser ameaçados naquele tempo e garantisse o respeito e uma aposentadoria suficiente quando as cãs (cabelos brancos) viessem cair sobre os ombros e o quando a flacidez facial marcasse as experiências e as amarguras próprias da maturidade como testemunho de uma luta mais nobre do que a própria sobrevivência.
Por fim, os manuscritos dessa civilização se perderam e resta a todos nós imaginarmos qual fora o destino desses intelectuais.
Por fim, devemos nos lembrar de que PODER é ter controle sobre a vida das pessoas.

quarta-feira, 25 de março de 2015

a praça.




tarde abafada de outono, já carregada de folhas caídas, acolchoando o chão para o inverno. Fora limpa recentemente e ainda as formigas não se acomodaram para o clima elegante e austral. Na foto constam 7 pessoas, 2 cães.
Os três mais acima, como numa cerração matinal, se perdiam em ofensas numa névoa entorpecente e palheiros na mão, numa embasbacada alegria.
Na parte central, outros três jovens temulentos rindo a própria sorte e se afogando em latas reluzentes e douradas, alternando com tragos de vodkas baratinhas.
E na parte inferior, a enleada imagem de um senhorita, muito mais subversiva que a meia dúzia já citada, extática e absorta num frenesi estático, que corria as linhas negras das páginas em tom sépia e como querendo mergulhar mais profundamente nas páginas do seu livro, fazia questão de ignorar tudo a sua volta.
Inebriada que estava, era contemplada pela natureza em seu silêncio, que só se tornava mais nativa com as presenças ilustres desses dois cães interessados por algum pássaro que voava sorrateiramente perto do fotógrafo.

sábado, 14 de março de 2015

o anagrama de "elite" é leite,
do leite vem a nata.
e quando a "elite" se sente a nata,
eis que surge um novo anagrama.
"anta"

segunda-feira, 9 de março de 2015

o princípio tudo era com caixa alta, assim mesmo, CAIXA ALTA. O latim, e sua imponência, não reconheciam as coisas menores. A palavra tinha sua força na representação clara da ideia. Então, as palavras se preservaram nos mosteiros, para fugir da barbárie, foram ser copiadas e mantidas por séculos e séculos na clausura monástica. Foi quando os monges, em suas vidas pacientemente regradas, criaram as caixas baixas para facilitar os textos manuscritos. As ideias então, apesar de grandes, preferiam a discrição dos traços minúsculos. Os monges artistas ornamentavam páginas e páginas com ricas Iluminuras, bordadinhas em escarlate a cada nova página, que se chamavam fólios. E os fólios carregavam cuidadosamente os significados perpetuados pela experiência humana e se capitulavam todo início de frase. Da inscrição em pedra para a maleabilidade do papiro, as palavras optaram pela fluidez. Evitou-se a rigidez. Chegou-se ser demodê escrever com maiúscula, era como alguém que aprendera a escrever às pressas. Sua complexidade resistia em poucas palavras, era como se fosse arcaico e glorificante. Nasce nesse tempo a famosa noção de usar as caixas altas para coisas importantes.
Centúrias fluíam pela clepsidra, a fluidez se esvaía pelo tempo. A concretude das gramáticas das línguas modernas forçava novas e novas regras. Tudo isso enterrava o latim. As funções gramaticais, que eram marcadas por casos e declinações e toda a magia da lógica própria da vestuta língua, renderam-se às ordens diretas, pontuações e maiúsculas que passaram a figurar no início de toda frase. Os frios e sisudos saxões ainda usaram as caixas altas a todos os substantivos; os latinos, mais quentes e amantes, foram comedidos no uso das mesmas. Veio a onda da internet, nela as regras de quase tudo se modificaram, inclusive as das relações. Ama-se perdidamente alguém de Milão. Conversa-se mais intimamente com alguém lá da Síria. Países além da Cochinchina passaram a compor os mapas mais pessoais. Os diários migraram de sua solidão trancafiada para um ermo pluri-observado de fãs afeitos às diversas ideias. As redes sociais não pescam pessoas. Elas ligam ideias. E o cansado escritor, das ideias mais recatadas, optou por fugir da norma, até porque só as Normas valem a pena, mas não as normas. Ele usou a caixa baixa para passar despercebido em meio a tanta expressão tão mais relevante na insensatez contemporânea.